Gotas de saudade


Nove da manhã do dia 24 de dezembro. Ela acordou com mil pensamentos e tarefas a executar. Sua mãe viria passar o natal em sua casa e ela queria que pelo menos naquele dia, as duas não brigassem. Saiu às compras e ao chegar, pôs-se a arrumar tudo. A ceia não seria em casa, seria na residência de um amigo, já que uma ceia apenas com duas pessoas não seria tão feliz assim. Olhou para sua casa, percebeu que ela merecia uma limpeza e passou a organiza-la. Queria junto com aquela arrumação, colocar também sua vida em ordem, limpar os cantos sujos da alma e desinfetar o coração ora repleto de manchas de tristeza. Era assim que ela ficava no natal: triste, chorosa, saudosa. Uma mistura de perdas, desilusões e solidão. Procurou seu CD de boleros na estante. Queria ouvir aquela música, porém não o encontrara e colocou um outro que também trazia em suas melodias muitas recordações. Começou a faxina e enjoada das músicas chorosas, trocou o repertório. Num átimo de nostalgia, pegou o rodo e imaginou que ele fosse seu amado e começou a dançar. De forma robótica varreu a casa, tirou o pó dos móveis, encerou a casa, suou, cansou. Mas algo nela não chegava a exaustão. Ela queria mais. Contudo não havia nada mais a fazer. A casa estava impecavelmente limpa. Então ela lembrou de sua alma que estava desordenada, cheia de traças a roer seus pensamentos. Trocou mais uma vez o repertório e suas lágrimas começaram a fazer um serviço intenso de limpeza. Começou a cantarolar uma letra que falava em fios que uniam e separavam, porém uma estrofe chamou sua atenção:


"Só por você eu dei até o que eu não tive
Há tantos que vivem, sem viver um grande amor
Eu que sonhei por tanto tempo em ser livre
Me prenda em seus braços
É o que eu te peço"


Ela havia sonhado a vida inteira com sua liberdade e agora queria prender-se naqueles braços, permanecer aninhada, protegida, mimada. Pegou o telefone e discou um número que não estava na agenda telefônica e conversou com um alguém do outro lado da linha. Não sabia porque havia ligado, mas queria ouvir aquela voz. Falou coisas sem importância, riu e encerrou a chamada. Ouviu repetidamente aquela música, calou os gritos contidos dentro de si, entrou no banheiro, tirou sua roupa de forma lenta, abriu o chuveiro e mergulhou naquela saudade sem fim.

Retalhos da noite


Olhou o relógio. Faltava pouco para meia noite. Havia passado o dia com pensamentos obscuros, tristes, melancólicos. Sua alma estava repleta de vazios. Passou a pensar na vida, no passado, nas oportunidades que deixara para trás, nas incertezas do futuro e refletiu... Não sabia mais o que fazer de sua vida, ora tão monótona, sem cor, sem graça. Esperava a felicidade bater a sua porta, mas esta, nunca dava o ar de sua graça. Ligou um aparelho e começou a ver um filme triste. Chorou imaginado ser a atriz principal que morria depois de conhecer seu verdadeiro amor. Olhou a agenda telefônica e na lista tão extensa não havia um só número que ela podesse pedir socorro e sentiu-se ainda mais solitária. Queria chorar, gritar, mas conteve suas emoções e as derramou em duas gotas que escorriam sorrateiras por sua face. Cantarolou uma música do passado e este, se fez presente. Na impaciência que a tomava, se pôs a escrever palavras desconexas, como a querer exorcizar, em vão, os sentimentos que a dominavam. Por um momento olhou-se no espelho. Não reconhecia a imagem refletida. Aquela que via, não era ela, mas não sabia o que fazer para transformá-la na menina de outrora. Cansou-se de si e num lampejo de razão, acertou seus pensamentos, apagou as luzes, deitou-se em seu leito, cerrou os olhos e adormeceu.

O real sentido das coisas

Quando fazia terapia (porque todo mundo tem um pouco de médico e louco), a psicóloga que ouvia os conflitos de minha alma, me presenteou com um livro e confesso que não dei tanta importância. O título era lindo, sugestivo e li sem prestar muita atenção ao conteúdo.
Ontem a tarde, em mais um domingo com a TV me fazendo companhia, peguei o livro que já estava meio jogado e li um capítulo qualquer. Embora o capítulo tenha sido escolhido a esmo, creio que não se tratava de qualquer assunto pois versava sobre a saúde, o amor e a família.
Ao ler cada linha escrita com fortes cargas de reflexão, me vi ou melhor, deixei de me ver em muitos pontos. Na relação pais e filhos, há componentes que a biologia não consegue atingir. O componente subjetivo das relações humanas que fazem da família a célula mater da sociedade é o amor. Não falo o amor pieguismo, sentimentalista, mas o amor companheiro, disciplinador, claro e plácido que norteia a vida das pessoas felizes.
Em um dos trechos, o autor comentava a relevância da figura masculina na educação dos filhos e a importância dessa figura em atos carinhosos como abraçar, beijar, afagar, conversar com seus filhos, conhecendo-os na intimidade da alma. No meio da leitura as lágrimas teimaram em cair e eu não compreendia muito bem a minha atitude.
Passei a me fazer inúmeras perguntas e cheguei a conclusão de que não é o fato de ser filha de pais separados que me incomoda. O que dói mesmo, é saber que meu pai só foi paternal comigo enquanto eu era uma criança, como se adultos não precisassem dos carinhos paternos. No momento em que lia, acabei recordando de dois amigos meus que apesar de não conviverem com seus filhos sob o mesmo teto, são presentes na vida deles.
Não aguentei mais aquela leitura que me maltratava e ao mesmo tempo me dizia tantas verdades. Fechei o livro, apaguei as luzes de casa e desejei ouvir uma voz paternal e não precisava ser a do meu pai, mas que fosse algo amoroso e acalentador.
Adormeci e acordei ainda com vontade de ouvir tal voz
Acho que amanhã ainda vou querer ouvir essa voz
Penso que todos os dias, gostaria de ouvia essa amorosa voz.






*O livro ao qual me referi nesse post, se intitula: Quem ama não adoece, escrito pelo cardiologista Dr. Marco Aurélio Dias da Silva.

Meu querido, meu velho, meu amigo

Olhando seus cabelos, tão bonitos,
Beijo suas mãos e digo
Meu querido, meu velho, meu amigo.



Ontem amanheci saudosa. E na verdade, ainda estou. As lembranças da infância ficaram mais vivas em minha memória como se eu estivesse dentro de uma máquina do tempo a recordar um passado feliz. Ontem fez exatamente seis anos que meu avô partiu.José Joaquim da Silva, popular Zeca ferreiro (meu avô), era um homem muito rígido, sem papas na língua e sua palavra era lei.
Aquele homem de porte mediano, cabelos brancos, andando com a ajuda de um cajado era a nítida expressão da dignidade. Seus olhos, para mim sempre foram um caso a parte... Uma cor indefinida, que lembrava o Rio São Francisco em profundidade, eram a expressão da beleza. Suas mãos eram a do artista que forjava facas, facões, foices e ao mesmo tempo, tinham a delicadeza de cultivar a terra, de saber dos seus segredos e necessidades.
Ferreiro de profissão e agricultor por vocação, tinha um respeito admirável pela natureza e não permitia que viva alma atirasse um alfinete nos pássaros e seus ninhos, que ao contrário do que se pense, eram livres como vento. E se algum neto ousasse tirar uma única fruta verde do pé, era praticamente obrigado a comê-la para aprender que tudo na vida tem seu tempo.
Homem de pulso firme e olhar doce e esse contraste nos permitia uma intimidade que não consigo explicar. Nunca ousou agredir qualquer um dos netos fisicamente, mas nem precisava, porque as broncas que ele dava valiam por vinte surras de cipó de couro.
Seus conselhos eram sábios, nos ensinava muito da vida, do mundo. Certa vez, quando percebeu que nós, as meninas, já estávamos descobrindo a adolescência e com medo de nos desviarmos do caminho correto, fez uma observação que não esqueço até hoje: "Um homem, quando senta em um lugar sujo, levanta e vai embora. Já a mulher, fica suja para o resto da vida". E com todo machismo inserido dentro dessas palavras, é preciso concordar que ele estava certo.
Eu tinha nele a figura do salvador da pátria, já que minha mãe não ousava brigar comigo na frente dele. As histórias que ele contava, a simplicidade e falta de traquejo com a língua portuguesa faziam dele a pessoa mais fantástica da galáxia.
Aquela casa de alpendre, no alto do morro, ladeada por um sítio, era farta de gente e alegria. Todos da vizinhança chegavam na casa do seu Zeca ferreiro para dois dedos de muito boa prosa e em épocas festivas, estávamos sempre reunidos à mesa para a celebração da vida.
Mas as pessoas não existem para sempre e um dia, elas precisam partir... E despedida do meu avô foi muito dolorosa. Ainda hoje, tenho guardado na lembrança de forma muito viva.
Continuo mantendo-o presente em minha alma e a cada vez que toca a música cujo título dá nome a este post, sou levada pela melodia da saudade a um tempo que infelizmente não volta mais.

Pense nisso

Quem muito se acha, um dia se perde.

Afinal, o que querem as mulheres?



Na verdade e para início de conversa, não quermos um homem que lave, passe e cozinhe. Para isso existem as secretárias do lar, que com uma boa pesquisa e dindim no bolso, dá para encontrar uma que atenda as nossas necessidades. Se bem que se ele souber fazer uma gororoba legal, iremos achar o máximo.
Queremos abraços apertados, beijos molhados, segredos confessados
Uma noite de lua em uma praia deserta, um dia de chuva com cheiro de terra...
Queremos a rotina. Sim, isso mesmo. RO-TI-NA.
Rotina de companheirismo, de amizade, lealdade. Rotina de olho no olho, de conhecer realmente quem está ao nosso lado, pois quando esta rotina acaba, acabou o relacionamento.
Queremos ganhar flores sem um motivo especial, fazer travessuras adolescentes ouvir sussurros indecentes...
Queremos a vida intensa, como intensa é a felicidade
Queremos sexo. É verdade. Mulher quer sexo. E antes que os puritanos de plantão me ponham na cruz da censura e me chamem de desavergonhada, vou logo avisando que sexo, está na cabeça, na mente. Beijou na boca, sentiu algo diferente, pimba! Não adianta querer fugir, viu?
Queremos compreensão, não um psicólogo. Queremos amizade, não o Ursinho Pooh. E se a população masculina sabe que uma vez por mês a mulher vive momentos em que os hormônios falam mais alto, não custa nada respeitar a TPM, né?.
Queremos um dia inteiro de compras, com cartão ilimitado, sem a depressão no dia seguinte com fatura a vencer. Na verdade a fatura pode vencer, mas que um super-herói venha resgatar a dívida. (risos...)
Queremos atitude, personalidade, pegada. Aquele jogo de sedução onde partimos para a dominação combinada, em que eles "dominam" e nós "obedecemos".
Enfim... Queremos escurinho no cinema, drops de anis, longe de qualquer problema, perto de um final feliz. Porque felicidade é o que queremos sempre.



O milagre de renascer




Sempre que o assunto é meu nascimento, minha mãe conta que eu sou produto de um milagre. Ela tem tem sangue B negativo e eu, B positivo, o que gera muitas incompatibilidades entre mãe e feto. O sangue da mãe entra e contato com o sangue do bebê produzindo anticorpos contra a criança, produzindo no feto um caso chamado de eristoblastose fetal que causa problemas neurológicos graves, como a paralisia cerebral e pode até ser fatal.
Na época, minha cidade não tinha um hospital que atendesse as necessidades do meu nascimento e minha mãe foi encaminhada para Penedo para poder ter um parto tranquilo.
A questão, é que nasci muito fraca, miudinha, ictérica e tive que receber trasnfusões sanguíneas, além de ficar por 21 dias em uma incubadora.
Quando o quadro ficou estável e segundo os médicos, já não havia perigo de morte, fui encaminhada para casa. Porém, sou a terceira de cinco filhos que não conseguiram sobreviver e depois da quinta tentativa de me dar um irmão, minha mãe foi aconselhada a não ter mais filhos e segundo ela, o médico que a operou disse na sala de cirurgia: "Essa mulher tem uma filha que não sei como está viva". Passado o período do nascimento, o primeiro ano de vida também foi repleto de cuidados, porém sobrevivi.
Tive uma infância rica em brincadeiras e como filha única, tinha tudo o que uma criança dentro das minhas condições sociais poderia ter. Porém, como o renascimento se faz de inúmeras formas, quando meus pais se separaram e a empresa que eles haviam construído juntos faliu, passei fome e aos 13 anos, fui trabalhar para garantir o sustento. Busquei vida dentro de mim e segui em frente tentando não ser atropelada por uma situação tão forte para uma adolescente.
Aos 16 anos, eu trabalhava na UTI de um hospital como auxiliar de enfermagem e com meio salário mínimo, que na época estava no valor de R$ 60 reais, sustentava a casa. Minha mãe, também precisou renascer e como Phoenix, recomeçou sua vida das cinzas deixadas por um casamento infeliz.
A minha paixão pela medicina teve que ser engolida e já em outro emprego, ganhei um curso de radialismo onde me formei e atuo na área até hoje. Mas mesmo assim, eu sabia que iria trabalhar na saúde, porque eu nasci foi para cuidar de pessoas e persegui o sonho até ser acadêmica de fisioterapia.
Porém milagre e renascimento me acompanham desde sempre. Estes dias, ao fazer exames na tireóide, foi descoberto um nódulo que poderia ser canceroso. Eu já não tinha porque apelar para Deus, já que ele havia me concedido o direito de nascer e diante das circunstâncias deste nascimento, ter um corpo e mente sãos.
E de tanto pensar no caso de provavelmente ter um câncer, liguei para um médico amigo, que funcionou muito mais como amigo, do que como médico. Ele acalmou o cabeção que estava a ponto de pirar. Conversei com minha professora, desabafei com alguns amigos, só não falei pra minha mãe, porque eu achava que a carga era pesada demais para ela.
Chegou o dia de fazer a biópsia para a investigação do nódulo e dois dias depois, fui buscar o resultado. Quando aquele papel grampeado estava em minhas mãos, quase caí de medo e ansiedade. Eu ficava falando comigo mesma: "Eu abro ou não abro? Ai eu tô com medo". Porém uma outra parte de mim ficava a me censurar: "Débora você é uma mulher ou um bago de jaca?" Confesso que estava muito mais para o bago de jaca, mas eu precisava saber o que eu tinha e na faculdade, me isolei em uma sala e sozinha, abri o exame. Resultado para câncer NEGATIVO. Naquele momento eu compreendi literalmente o que é milagre e o que é renascer. E se formos analisar um parto, a coisa é bem parecida: A mãe sente contrações dolorosas, tem medo, chora, os amigos ficam por perto e no momento crucial do nascimento, alguém quer seja médico ou parteira, está lá amparando a cabeça da criança para que ela não despenque da mesa de parto.
E foi exatemente o que eu senti: A dor e ansiedade da dúvida em relação ao diagnóstico, o amparo dos amigos que foram as pessoas especiais que ampararam minha cabeça para que eu não despencasse.
E comovida com as provas de carinho, digo que não há sensação mais maravilhosa que o milagre do renascimento.




Persistência


E no afã de não desistir

de seu sonho,

ela foi buscá-lo em outra padaria.

Mala Nike

Sou uma pessoa que vive no mundo de lá pra cá e de cá pra lá. Moro no interior, estudo na capital e viajo todos os dias para a faculdade, voltando a meia noite para casa e no outro dia, enfrento o trabalho que sustenta minha casa e fornece meu pão. Com essa correria, eu ando sempre na minha bolsa quase mala, com um kit banho composto de produtos de higiene. É claro, que com o salário que ganho, não dá para comprar bolsa de marca, mas surgiu na minha vida por um breve momento, uma mala nike.
Toda pessoa que tem um casal de amigos, diga-se de passagem um casal apaixonado, é "vítima" da operação desencalha. Uma amiga, vendo minha solidão amorosa, resolveu com seu ilustre namorado, encontrar minha cara-metade. Eu achei ótimo, porque sendo eles meus amigos, a chance de atirar no escuro é pequena e claro, me valendo da amizade, sei que eles só irão me encaminhar para pessoas muito legais.
Pois bem. Em uma conversa dentro do ônibus da faculdade, minha amiga dissertou sobre as qualidades do pretendente e prometeu enviar-me uma foto. Quando vi no meu e-mail o rosto do candidato, topei conhecê-lo pessoalmente o que aconteceu uns três dias após o recebimento da imagem do moço.
Fomos para uma churrascaria, conversamos, rimos e o namorado de Samara, perguntou o que eu tinha achado do dito cujo e eu respondi que estava meio assim. Mas como brasileiro não desiste nunca, fomos para praia receber a brisa marítima. Chegando no local indicado, o casal de amigos foi se retirando de mansinho e fiquei a sós com o mancebo.
Conversamos muito, ri outro bocado e beijo que é bom, nada. O tempo passou e eu percebi que a cada frase que ele dizia, encostava mais perto de mim até ficar bem juntinho. Como eu sou uma pessoa que não bebe uma única gota de álcool, e o rapaz sabia desta informação, utilizou deste artefato para o primeiro beijo. "Você não bebe, mas não quer sentir o sabor da cerveja?" Eu imaginei: "Trevas, esse foi o papo para o primeiro beijo?" Se você me perguntar se eu beijei, respondo que sim. Beijei para não perder o amigo. Mas não passou disso. Foram beijos, beijos, beijos e... beijos. Em um momento, no meio da conversa, para distrair um pouco eu dei uma risada e o chamei de mala e como um raio ele me respondeu: "Espero que eu seja a sua mala nike." Naquela hora não sabia se ria ou se corria. E tive a plena convicção de que homens que ficam há muito tempo solteiros não é por opção, é falta de ação mesmo.
É bem verdade que nunca tive uma bolsa Louis Vuitton, Channel, D&G, Prada ou artefatos esportivos de multinacionais. Mas nunca na história deste país, alguém dispensou tão fácil uma mala nike.

Ao fisioterapeuta com carinho


Correr, andar, abraçar, tocar, movimentar, sentir, reabilitar... São verbos que a Fisioterapia conhece muito bem. Mas existe um em especial, que rege essa magnífica profissão. É o verbo acreditar. Pois o fisioterapeuta acredita na capacidade do paciente quando nem ele acredita em si mesmo.
É o fisioterapeuta que a exemplo de pais e mães adotivos ensinam o paciente a readquirir sua funcionalidade, sua independência.
É o Fisioterapeuta que acredita que tudo pode ser possível e que ao avaliar o paciente, sente sua incrível capacidade de recuperação.
É o Fisioterapeuta que a exemplo de Jesus usa as mãos para promover verdadeiros “milagres...”
É o Fisioterapeuta quem se frustra quando aquela técnica não foi bem sucedida e se entristece com a falta de fé do paciente.
Mas também é ele quem vibra em cada passo dado, que se alegra com a amplitude de movimento recuperada, que se emociona ao ver o sorriso de seu protegido.
A Fisioterapia não usa fármacos, porque possui amor...
Não usa bisturi, porque possui perseverança...
Não usa anestésicos porque possui sensibilidade...
E com todo o respeito que se deve aos profissionais de saúde...
A Fisioterapia vai onde ninguém consegue chegar!




*13 de Outubro
Dia do Fisioterapeuta.

O cafajeste

Tá, confesso, mulher gosta mesmo é de cafajeste! É verdade! Não adianta gritar, espernear, fazer revolução. Mulher adora aquele tipo de sorriso fácil, com olhar espremidinho e que no fundo a gente tem absoluta certeza de que não vale um vintém.
Como eu cheguei a tal conclusão? Foi mais simples do que eu imaginava. Estava no comércio perambulando, olhando algumas lojas, sem compromisso. Na verdade, eu queria matar o tempo, antes que aquele calor me matasse. Entrava em uma loja, saía em outra, sempre a observar as vitrines e os calçados. Mulher adora um calçado novo. Não apenas uma calçado novo, uma camiseta branca, pra fazer companhia aquela coleção de casa, um jeans básico, um par de brincos para combinar, um perfume, um batom novo... Bem, a lista de necessidades femininas é bem longa. Homem nenhum na face da terra, a não ser que seja gay, vai compreender essa coisa tão lógica: mulher + compras = Dia feliz.
Mas a intenção não era comprar, era matar o tempo. Então entrei em uma loja e o vendedor me recebeu com um sonoro "boa tarde". Respondi ao cumprimento e passei a olhar os calçados e me encantei por uma sandália exposta na vitrine. Procurei o vendedor, perguntei se tinha o meu número e ele foi procurar. Quando chegou, além da sandália, trazia consigo o olhar e o sorriso encantador. Parei para observar aquela criatura. Alto, esbelto, cabelos negros, olhos castanhos, e a tarja: "Sou cafajeste até na alma" colada na testa.
Provei o calçado e coube perfeitamente no meu pé de cinderela nº 39. Aí, me veio a dúvida, se eu levaria ou não. Na verdade, entrei com a certeza de não levar nada. Mas o vendedor, com aquele jeito de malandro olhou pra mim e disse: "A sandália é leve, cor neutra, combina com tudo, pode ser usada com saia, short ou calça... Além do mais, eu gostei de você e você gostou de mim então, tome, esse é o número do seu pedido, eu levo você até o caixa e você leva a sandália".
O sorriso era tão magnetizador que realmente me dirigi ao caixa e levei a dita. Não era bem o que eu queria, estou quase arrependida. Mulher tem muito disso: compra, se arrepende e não pode fazer mais nada. Mas dessa vez, não foi minha impulsividade em comprar que prevaleceu. A culpa foi daquele cafajeste que me seduziu.

E a menina virou mulher

Se existe um marco na vida de uma menina, é quando ela completa 15 anos de idade. É uma data mágica. Lembra contos de fadas, a borralheira que se transforma em cinderela, o botão que desabrocha na forma da mais bela rosa, a menina que enfim, se transforma em mulher.
Essa nostalgia do debut, me veio ao ser convidada para o aniversário de 15 anos de Camila e Gabriela, irmãs gêmeas que festejaram sua entrada no "mundo adulto" de forma muito tradicional.
A festa, organizada com o mais fino primor, tinha ares de antigo aliado ao contemporâneo, castelo com ares de boate, Dj com jeito de orquestra, globo de luz lembrando lustres raríssimos.
Em um dado momento, a música foi silenciada e a mestre de cerimônia fez a leitura de um texto que exprimia exatamente o que era completar 15 anos. E então, nobres cadetes e suas quinze damas entraram pelo salão lindamente decorado e tracejado por um tapete vermelho. Ajoelhados, os cadetes viram o desfile das aniversariantes e logo após, as donas da festa passaram por um corredor formado por espadas que se cruzavam, como a batiza-las para a entrada de um novo mundo.
Ao decorrer da cerimônia, o laço de fita foi trocado pela tiara de brilhantes, o vestido de babados, trocado pela roupa de gala, a sandália infantil, trocada pelo salto alto e finalmente, a boneca trocada pela maquiagem.
Exatamente ali, lembrei do ano em que debutei. Não houve festa, valsa, cerimônia. Confesso que o tempo passou e de repente eu já estava completando 15 anos. Era uma adolescente que por obrigação, cresceu antes do tempo. Tive que encarar a realidade bem antes da cinderela aparecer.
E como toda mocinha que se preze, experimentei um mundo de sensações, sentimentos, paixões arrebatadoras que só uma menina nesta idade sabe como é. As dores, nessa idade parecem maiores do que realmente são e a vida acaba no momento em que se "paga um mico" básico. Acredito até que o adolescente seja uma hipérbole.
Lembro que ganhei uma caixinha de música que tocava uma melodia triste, mas se perdeu no tempo e na tristeza dos momentos ruins e uma boneca de porcelana que tenho até hoje. As vezes, olho a boneca e volto ao passado. Recordo erros, os muitos erros e os acertos que não foram tantos assim. Muitas vezes, é lá que me escondo, na segurança e quietude do que passou.
Depois acordo, volto ao presente e vivo a realidade das minhas escolhas, do "destino" que eu mesma fiz.
Arrependimentos? Tenho sim e muitos. Quem não os tem? E se eu voltasse no tempo o que eu faria? Confesso que tudo outra vez.

No ônibus

Não sei porque cargas d'agua a inspiração para escrever me invade quando estou andando de ônibus. Fico a olhar pela janela que me parece mais uma película a rodar e quadro a quadro, as palavras vêem a minha mente e os textos surgem de forma fluida e criativa.

Certa vez, Marcela, jornalista e companheira de trabalho, solicitou a criação de um vídeo e disse: "Com essa antecedência, você terá tempo de sobra para andar de ônibus!" Tá, confesso que é meio esquisito e pior ainda, revelar que começo os textos do final para o início. (Tudo bem, coisa de doido), mas a receita vem dando certo até hoje.

Acho ônibus uma rede social fantástica! Em tempos de orkut, msn, twitter, facebook, sonico (se tiver mais alguma rede aí, me digam) perdemos a oportunidade de conhecer pessoas de carne e osso, de sentir, trocar idéias.

Ao sair do hospital, peguei um coletivo e fiquei a olhar a janela. Em certo momento, o ônibus parou e entrou uma figura fantástica! Pedro Henrique. Moreno, olhos castanhos escuros, tipo mel de engenho, cabelos bem cortados, magro, nariz arrebitado. Quando o vi, notei que seu rosto estava repleto de "pintinhas" características da varicela, popular catapora. De mãos dadas com a mãe, ele sentou ao meu lado e puxei conversa. Para iniciar, perguntei o óbvio: "É catpora?" e ele respondeu: "É." Daí a conversa cresceu ao ponto de eu perguntar se ele estava achando bom essas férias escolares forçadas. Então, dentro de sua inocência, me falou que ainda estava procurando uma escola, porque lá no bairro dele, não havia vaga em nenhuma unidade escolar.

Confesso que ainda fico chocada em saber que crianças estão fora da sala de aula por conta de falta de vagas. Depois de engolir em seco a questão social do nosso Estado que não fornece unidades escolares suficientes para abrigar nossas crianças, amenizei a conversa perguntando o que ele queria ser quando crescesse. "Quero ser doutor". E emendei: "Doutor médico, doutor psicólogo, doutor fisioterapeuta..." ao que prontamente disse que queria ser doutor médico. Sua vontade era ajudar a família com seus estudos. Depois, ele começou a viajar: "Quero ser doutor médico, taxista e fisioterapeuta. Ah! E ainda "dirigir" um avião. Mas se o avião "pifar" eu vou pro céu."Dei uma risada. Não que estivesse me aproveitando disso, mas pela criatividade e ingenuidade infantil. E então, começou a descrever o avião que um dia ele iria pilotar

Depois, ele virou entrevistador: "E você, o quer quer ser?" Não me conti em devolver a pergunta: "O que eu quero ser quando eu crescer?" Ele olhou pra mim e respondeu: "Mas você já cresceu". E o pensamento foi para longe. É verdade, eu já cresci. (Constatação difícil muitas vezes...)Respondi minha trajetória de profissões desde a infância quando eu queria ser professora e cabeleireira, até hoje na fisioterapia.

Enfim, depois de um longa conversa, chegou o momento da partida. Revelei-lhe, que havia sido um prazer conhecê-lo, ao qual muito educado, respondeu-me que gostara muito de nosso "papo".

Ele desceu do ônibus e eu fiquei a pensar...

Como é que nosso país permite que seu futuro fique longe dos bancos escolares, sem a oportunidade de concretizar sonhos? Nesse período decisivo onde nós temos nas mãos a chance de trasnformar o país, fico com a propaganda inteligente que vi na TV esses dias: O melhor candidato às eleições, se chama EDUCAÇÃO.

Abandono


Nos discursos políticos, nas lutas sociais, sempre ouvimos falar em menores abandonados. Seja para o granjeio de votos ou causas justas, as crianças abandonadas por suas famílias são alvo de estudo, matérias jornalistas e debates entre poder público e sociedade civil onde se tenta resolver um problema crônico dos grandes centros urbanos.

Quando se discute o problema, a opinião de muitas pessoas sempre está formada, e em tese, as soluções estão sempre à vista. Mas deparar-se com um caso debaixo do próprio nariz, é coisa bem mais chocante e complicada do que um simples formar de teses e opiniões.

Quando cheguei ao hospital, fui junto com as colegas da faculdade, atender a paciente a nós reservada. Nossa orientadora, apresentou-nas e ficamos a testar as limitações daquele quadro neurológico. A paciente em questão era portadora de AVE, popular derrame.

Mas uma enfermaria me chamava a atenção. Estava meio escura e havia ali, um menino a brincar sozinho. Sempre que passávamos, lá estava ele olhando e sorrindo para nós.

Depois de atender a paciente, fui até a enfermaria onde estava aquela criança e começamos a conversar... Perguntei seu nome, idade, e o motivo de sua internação, ao que me respondeu prontamente, demonstrando sagacidade, esperteza e inteligência. E como toda criança tem algo de sedutor (e não estou sendo pedófila), o instinto maternal logo foi acionado.

Me despedi dele e fui conversar com minha orientadora sobre o caso daquele menino. Perguntei se ele estava sem acompanhante na enfermaria, quando ela me respondeu:

- Ele foi abandonado pela família.

Fiquei chocada. Como compreender que uma mãe abandone seu filho aos sete anos de idade? E o motivo era ainda mais torpe: Ela o abandonou porque descobriu que ele, era portador de HIV.

- Certo dia, disse minha orientadora, ele tomou banho sozinho, trocou de roupa, arrumou os cabelos, num estilo arrepiado, porque tinha certeza de que alguém iria buscá-lo.

Ao ouvir essa declaração, não sabia mais o que dizer, nem o que pensar. O país do carnaval, do futebol, do samba, da alegria, é o país do abandono também. E não estou fazendo discurso político ou tomando uma frente social. É indignação mesmo!

Se refletirmos, dentre todo o reino animal, o homem é o único que mata seu semelhante, destrói seu habitat e abandona seus descendentes. E nos consideramos a evolução da espécie!

Não quero tornar o blog um campo de discussões sobre questões sociais. Apenas quis registrar a tristeza, o sentimento de impotência que me invade e, afirmar que sinceramente, não podemos nos acostumar com isso. Não podemos entender como "coisa normal" o abandono de pessoas. Normal é uma criança ter saúde, lar, escola. E não falo de riquezas, de supérfluos... falo de dignidade.


A despedida


Quando cheguei naquele hospital, minha orientadora apresentou-nos e logo após contou os motivos de seu internamento naquela unidade hospitalar. Foi simpatia a primeira vista. Aquele jovem de trinta e dois anos, porte mediano, olhar cansado, era a personificação da doçura.

Sempre às quintas-feiras, eu estava lá para nossas sessões de fisioterapia. Sua história baseada no etilismo, lesionou uma parte do sistema nervoso, o que levou a falta de equilíbrio. Ele não sentava, andava, para comer era um dilema, porque todo seu corpo tremia e além disso, ele era soro-positivo para HIV. Porém, ao invés da agressividade, da revolta, da negação, encontrei naquela criatura, a perseverança e a certeza de poder vencer.

Muitas vezes ele se entristecia... Queria voltar para casa e pensava que ia morrer ali naquele leito. Reclamava de sua voz, que por conta dos distúrbios causados pelo álcool, ficara alterada e não conseguíamos entender muito bem o que ele falava. Mas mesmo com essa tristeza, ele continuava.

Com o tempo, reestabeleceu o equilíbrio, passou a alimentar-se sozinho, as palavras já eram entendidas e chegou a hora de partir...

Para o paciente, não existe hora melhor que a alta. Para o terapeuta, significa o término de um ciclo, mas confesso que não deixamos de nos emocionar. Sua última sessão fora apenas sorrisos e brincadeiras que ele fazia com os funcionários do hospital.

Enfim, chegou o dia de sua saída e fui até a sua enfermaria. Ele me olhou tão feliz e antes que ele articulasse qualquer palavra, eu já sabia que o motivo de sua felicidade era a volta para casa.

Olhei aqueles olhos esperançosos, e confesso que marejei os meus de lágrimas. Apertei aquelas mãos ainda um pouco trêmulas e senti a firmeza de uma nova vida.

Sentindo minha preocupação com seu porvir, ele me acalmou: "Eu vou ter cuidado, me converti".

É impossível descrever o que eu sinto até agora porque tudo está muito misturado aqui dentro. A única certeza que tenho, é que escolhi a profissão certa porque na área da saúde, é preciso amar primeiro as pessoas. Um amor sem preconceitos, sem amarras, sem pieguismos.

Aprendi com aquele paciente que a vida segue e mesmo ante todas as adversidades encontradas, tudo podemos, basta acreditar.


Feliz dia dos pais

Sempre que ouço a música "Pai" do compositor Fábio Jr. lembro da minha infância e da felicidade de ter meu pai presente todos os dias em minha vida...
São lembranças tão fortes que ainda consigo sentir o cheiro de graxa e óleo diesel que ele exalava quando chegava todos os dias em casa para almoçar. Ficava à porta de casa esperando aquele homem alto e desengonçado surgir ao longe, branco na pele e preto pelo trabalho, para sair em desabalada carreira para abraçá-lo. Para meu olfato infantil, não havia aroma mais irresistível que o cheiro dele. Era o homem que me protegia, me amava, que me daria a lua, assim eu a pedisse. A criatura mais incrível, mais inteligente da galáxia. O Macgyver da minha vida.
Nunca ousou levantar a mão para me bater... Mas tinha um olhar e um tom de voz que valiam por milhões de surras! Me beijava, abraçava e à sua maneira bronca de ser, sonhava comigo.
A história que envolve meu nascimento foi contada e recontada por ele inúmeras vezes. Por conta de minha sobrevivência, tornou-se evangélico pois viu em meu nascimento um milagre.
A grande escritora Clarice Lispector conta que seu nascimento era a salvação de sua família. Sua mãe, tinha uma doença grave e segundo a crença popular, ela teria que dar a luz a um filho para ficar curada. Clarice nasceu e posteriormente sua mãe faleceu. Ao ler esse relato da escritora, pensei que meu nascimento milagroso manteria meus pais unidos... Acho que falhei em minha missão. - Tá, esse pensamento é digno de uma criança de cinco anos de idade, mas quem nunca foi infantil na vida?
Meu pai não morreu, mas penso que fiquei órfã de pai vivo. Quando ele foi embora de casa, deixou para trás uma adolescente de treze anos. As vezes, quando ele bebia demais, ouvia suas declarações de amor, e tentava pensar que uma consciência alterada pelo álcool costuma dizer a verdade.
Domingo último, foi dia dos pais. Tenho inúmeras lembranças desse dia, todos eles vividos na casa de meu avô. Vestíamos as melhores roupas, para depois sujá-las na terra daquele sítio cheio de doces recordações. E com todas essas reminiscências, passei ferro na roupa, tomei banho, e cada vez essas lembranças ficavam mais fortes. Senti até o cheiro da casa, do sítio, da comida preparada por minha avó.
Mas os pensamentos me acordavam dizendo que esse tempo ficara no passado. Na verdade, estava me arrumando para chegar até a casa do meu pai. Depois de pronta, liguei para ele, perguntado se ele estava em casa, ao que ele respondeu: "Estou em Barreiras bebendo cachaça." Ouvi sua resposta e murchei. Em meio a frustração que me tomava, consegui apenas dizer com voz baixa e triste: "Feliz Dia dos Pais".

Operação Cinderela


Semana passada, ainda no período das férias da faculdade, fui convidada pelo professor de ortopedia para compor o departamento médico, na condição de estagiária, da Liga Norte/Nordeste de Desporto Universitário que aconteceria na capital alagoana. Então, fomos Laura, Isabela, Samara e eu para a reunião onde seriam dadas as instruções do que deveríamos fazer.

No dia seguinte, começaram os jogos e como estava na rádio pela manhã, fui a tarde para a quadra de futsal, no Jacintinho, para exercer a função que me foi confiada. Todas nós ficamos no mesmo local e como estávamos hospedadas na casa da Laura, ao encerrar o evento, fomos sorridentes e felizes para casa.

Depois do jantar, começamos a conversar e Isabela e Samara, começaram a vamos dizer assim, abusar da minha paciência... Fui dormir chateada e elas de consciência pesada, foram me pedir desculpas e o que acontece? Ao tentar o abraço caloroso, as gracinhas, fofinhas e lindas, quebraram meus óculos! Tudo bem, que eles estavam debaixo do lençol e elas não viram, mas o fato, é que a lente ficou partida em 3 pedacinhos.

Quando vi aqueles pedacinhos na cama, soltei um desabafo: "Poxa, me arrependi de ter comparado meu guarda-roupas!" É... eu sei... desabafo de pobre, mas fazer o que, né?

No outro dia, eu teria que ir ao hospital onde estou estagiando. A questão era: Cega, como eu ia pegar o coletivo? E a saga começou. Cheguei no ponto, olhei para a moça ao lado de olhos quase fechados e fazendo uma meia careta, e perguntei? "Moça, que ônibus é aquele? É que eu quebrei os óculos ontem a noite..." e começava a discorrer sobre o drama.

Enfim, cheguei ao hospital e a primeira coisa que a professora observou foi a falta de minhas muletas ópticas. Ler o prontuário então, era um tormento. Mas, cheguei e saí de lá viva, o que é importante, para quem não enxerga.

Na sexta a noite, recebo uma ligação do meu chefe: "E aí, senhorita Guedes, já está pronta?" Botei a mão na cabeça e pensei: "Putz, a formatura do filho dele, e a gora?" O fato, é que eu não havia levado roupa, nem calçados apropriados para a ocasião e aí, começou a bendita operação Cinderela...

Laura foi vasculhar o guarda-roupas para ver se encontrava alguma coisa que coubesse em mim. E depois de muita luta, encontramos um vestido preto que serviu. Roupa escolhida, chegou a hora do dilema: O que eu iria calçar. Afinal, meu tamanho é 39. Isso mesmo, 39 quase 40! Queriam o quê? Uma mulher de 1.70m calçando 35?

Depois de ligar para uma outra amiga, resolvi calçar a sandália da Laura que usa tamanho 37. Sinceramente, desafiei as leis da matemática, geometria... Com jeitinho todo brasileiro, coloquei a sandália no pé e sinceramente, entendi como uma gueixa se sente...

Chegou a hora do cabelo. Nessa hora, a mulher quase enlouquece, porque o cabelo é o calcanhar de aquiles de qualquer alma feminina. Não adianta uma produção legal se o cabelo tá pedindo socorro. E Isabela entrou em ação. Só que em um determinado momento, quando ela estava escovando minha franja, eu fui sentar e o que aconteceu? Esqueci que atrás eu sou cega de nascença e caí feito uma jaca. Que cena! Seria famosa nas vídeo cassetadas!

Depois de tudo pronto, fui à festa. Estava tudo muito lindo. Mesmo sem enxergar lá muita coisa, observei uns gatinhos dando sopa... Cega, pero no mucho. Me diverti como há tempos não fazia.

E quando tudo estava maravilhoso, meu pé pediu socorro, sinalizando que era a hora da Cinderela pegar a carruagem e voltar pra casa.


Gratidão


Quando a vi pela primeira vez foi simpatia à primeira vista. Seu jeito meigo, sorridente, sua voz mansa a passar o conhecimento com um carinho descomunal foi os primeiros atributos que chamaram minha atenção para aquela mulher com olhar e jeito de menina.

Seu porte alto, seu jeito britânico com o calor tupiniquim a diferenciava dos demais professores... Parecia até que ela havia saído de uma história de contos de fadas e ganhado vida. Eu sempre quis conhecer mais dessa pessoa que eu começava a admirar. Muito reservada, trazia em seu semblante a ética e o amor pela profissão exercida e então, passei a observa-la...

Como contadora de histórias, queria ouvir, ver, sentir aquela criatura que tanto tinha para contar. Porém, não foram necessários depoimentos, nem xícaras e xícaras de café ou madrugadas de conversa para enxergar a pessoa tão humana que eu tinha como mestra.

Digo isso, porque certa vez, quando passei por uma situação de paixonite platônica, usei de seu ouvido amigo para contar o que havia dentro do coração. Lembro-me como se fosse hoje:

- Professora, você tem um tempinho para me ouvir?

- Claro. - Ela respondeu.

E quando todos os alunos saíram da sala, sentei-me perto dela e sua primeira atitude foi olhar dentro dos meus olhos. Jamais vou esquecer dessa cena. Ela procurou meu olhar e nos olhos dela pude ver escrito: "Tudo bem, pode confiar, estou aqui para te ajudar".

Contei o que me angustiava, sorri e me senti mais leve. Quando uma lágrima teimou cair, ela carinhosamente a enxugou...

Quando o semestre encerrou, pedi para acompanha-la como aluna na instituição a qual ela trabalha, no intuito de aprender na prática o que vi em teoria. Ela concordou. Foi então que vi as maiores demonstrações de afeto daquela criatura por seus pacientes. Na primeira vez que cheguei, quando fui apresentada ao primeiro paciente que seria a porta do meu aprendizado prático, observei que ela, vendo a limitação do paciente, escovou os dentes dele com toda presteza do mundo. Outro dia, a vi penteando o cabelo de um outro e mostrando o espelho para que ele percebesse como estava bonito. Depois, eu a vi ouvir as queixas de um terceiro com toda atenção e zelo que as pessoas merecem.

Daí, percebi que ela não dava apenas aulas repletas de boa didática e que seus ensinamentos ultrapassavam os limites acadêmicos. Seus ensinamentos são repletos de exemplos para toda a vida.

A você, professora Vannessa Almeida, que hoje completa mais um ano de vida entre nós, dedico minha enterna admiração, gratidão e meu mais profundo respeito.
*Vannessa Almeida é Fisioterapeuta, pós-graduada em fisioterapia peneumológica, docente do curso de fisioterapia e principalmente: exemplo de profissional e ser humano.


Diamantes da vida




Ele chega de mansinho, sem fazer muito alarde
Seus olhos refletem a alma infantil
Confiante, cúmplice, leal
É brisa a refescar os dias tristes
É perfume a pairar nas horas amargas
É a palavra quando todos se calam
Ele é silêncio que compreende
É tesouro de valor inestimável
É a risada das bobagens
O ouvido nos dias caóticos
Ele é "O" abraço
É poesia
É quem jamais desanima
É aquele que está, quando todos somem
Seu nome, pode ser qualquer um
Mas a este ser, eu o chamo de AMIGO!

Indagações

Dezessete horas. O expediente termina. Dá os últimos telefonemas e adia o que poderia fazer hoje, para a manhã seguinte, pois sua cabeça não aguenta mais pensar. Dentre as ligações, uma é para a amiga pedindo o refúgio de seus ouvidos. Segue para o lugar combinado e trocam confidências, cada uma, com seus dramas íntimos. Depois de lágrimas e sorrisos, a amiga lhe oferece um café e ela aceita, na esperança de aquecer a alma.
Após as últimas impressões, prepara-se para voltar à sua casa. Olha o relógio e percebe o adiantado da hora. São 22:30. A confidente insiste para a amiga ficar, mas ela prefere refugiar-se dentro de sua casa. Ao sair na rua deserta, o frio a toma de chofre, sente arrepios a correr-lhe todo o corpo. A chuva e o vento, a faz lembrar das noites londrinas, que lera nos romances policiais de sua autora preferida.
Finalmente chega em casa. Rega os vasos de plantas, agora meio murchas pelo seu descuido. Como se esquecesse do frio absurdo, pega a toalha e segue roboticamente para o banheiro, tira a roupa apressada sem querer dar atenção aos pensamentos que lhe vêem a mente. Abre o chuveiro e a sensação térmica da água a faz acordar para a realidade presente. Usa seu sabonete preferido que deixa em seu corpo um perfume suave de banho e limpeza.
Ao vestir-se, deita-se no sofá, divã de suas angústias e tenta ler um livro de poesias, mas não consegue concentrar os pensamentos, então começa a relembrar...
Há algum tempo, entregara a ele um pedaço de papel com um endereço eletrônico. Empolgada com o fato de escrever, queria compartilhar a alegria encontrada na escrita, com o maior número de pessoas possíveis.
Com um leve sorriso, recordara da gentileza dele ao aceitar o pequeno papel e comentar sobre os textos que ela escrevera naquele endereço. E assim foi nascendo uma amizade com trocas de palavras gentis e gestos velados de interesse mútuo.
Assim transcorreu o tempo e numa tarde, ele roubara-lhe um beijo. Suas reminiscências chegaram nos sonhos acalentados por ele... Lar, família, filhos... Tudo o que sua alma tinha de mais caro ele embalou em suas promessas. Porém, algo existia que os impedia de tantas realizações e intuitivamente, ela esperava pelo triste desfecho.
E na penumbra da sala, relembrava todos os pormenores vividos e interrogações lhe vinham à mente. Que queria ele afinal? Porque tantas promessas se sabia que não as cumpririam? Uma lágrima solitária escorre por sua face. Ela não tem respostas. Confusa e ainda sob o peso de suas interrogações, prepara-se para dormir e não consegue conciliar o sono. O livro de poesias agora esquecido, é o único expectador daquela cena.
Finalmente o cansaço a vence e na escuridão da casa, afunda suas angústias, os olhos pesam e ela adormece.

Ausências

É noite. Chega em casa rendida pelo cansaço. Em vão, abre a geladeira na esperança de iluminar seus pensamentos diante da luz do refrigerador, mas consegue apenas engolir em seco a solidão que lhe rasga a garganta.
Abre a janela que dá para o pequeno quintal de casa e percebe como a noite está linda. A lua, cheia de saudades, testemunha as ausências sentidas. As fogueiras, características do período junino, não conseguem aquecer a alma, tão carente dos sorrisos, dos olhares, dos abraços...
Entra no banheiro, tira a roupa devagar, divagando em seus sentimentos. Demora-se debaixo da água fria como a querer espantar os pensamentos que a atormentam. Veste uma roupa confortável de algodão, perfuma-se delicadamente e cai na cama, como a esperar um alguém...
Ela queria perder-se naqueles braços, encontrar-se naquele olhar, guiar-se por entre aquelas mãos, beber daquela boca, proteger-se naquele abraço, dormir naquele corpo e acordar no sonho que deseja para realidade.
Mas apenas consegue sentir saudades e uma ponta de esperança junta-se as suas dúvidas cruéis, deixando-a confusa. Olha o relógio do telefone celular, que espera ansiosamente pelo toque característico e só ouve o silêncio cortante a falar mais alto.
Rende-se. Fecha os olhos. Adormece.

(In) Certezas

Não sou pessoa de frações, de metades.
Gosto do inteiro, do somado, multiplicado
Subtrações, divisões, só em casos especiais
Quero a vida intensa
Quero beijos arrebatadores
Quero abraços apertados e duradouros
Quero o tempo parado
Apenas para eu sentir a vida pulsar
Quero a loucura da vida
Não uma vida louca
Quero as gargalhadas mais altas
Os olhares mais profundos
As palavras mais doces
A verdade cortante
Não consigo viver com mentiras
Mesmo que eu tenha dúvidas
Quero as certezas
Não a certeza do futuro sólido, florido
Quero a certeza das palavras ditas
Das paixões que me juram
Das promessas que me fazem
E se nada for verdade
Se tudo for ilusão
Prefiro seguir o meu caminho
Sem sorrisos fragmentados
Sem abraços divididos
Prefiro ir
Sem dúvidas
Sem porventuras
Sem talvez
Sem quiçá.

A caixa de presentes


Por incrível que possa parecer, nunca em toda minha vida, passei dia dos namorados devidamente acompanhada. Sempre acontecia um desentendimento entre ambos ou em outras ocasiões, eu estava sem namorado mesmo. E o dia 12 de junho, sempre foi triste pra mim, porque romântica como sou, penso na magia desse dia pintado de carinho, atenção, paixão, chamas acesas... Algum leitor pode até falar que o dia dos namorados é qualquer dia, mas se existe dia marcado no calendário, porque não comemorar?
Este ano, não foi diferente. Passei o dia dos namorados sem a presença física, mas dia 11, sexta-feira, ganhei uma caixa de presentes. A caixa era enorme: Não tive forças para trazer para casa todo seu conteúdo. Eram tantos detalhes e tantos presentes contidos dentro dela, que teria que fazer infinitas viagens para conseguir carregar aqueles mimos para algum lugar.
A caixa era decorada com carinho, repleta de corações vermelhos desenhados primorosamente pelas mãos dele. Enfeitada com laços de ternura, tinha a delicadeza das flores ali contornadas.
Ao abrir a caixa, não pude conter minha alegria. Tinha dentro, uma paisagem, uma identidade geográfica, um lugar para chamar de nosso. Depois de vislumbrar com olhar infantil aquele paraíso que mais parecia céu, vi que ao lado da paisagem, tinha um abraço afetuoso, contagiado de confiança e esperança em dias felizes, aliado ao olhar cúmplice, azul como o céu de verão.
Observei um pacote vermelho, perfumado e quando peguei, ele estava cheio de beijos apaixonados e os ganhei um a um: delicados, insinuados, provocantes, cada um com sabor diferente, coloridos como a música do poeta Geraldo Azevedo.
Vi que dentro dela, havia um céu azul, uma tarde ensolarada iluminando a paixão nascente.
Havia ainda outra caixa um pouco menor, repleta de sorrisos avulsos, fruto da alegria sentida, da conversa leve, das palavras bobas ditas em um dia despreocupado, feito para o encontro de enamorados.
Quando observei direitinho, vi uma outra caixinha pequenina, luminosa, que chamou minha atenção pelo brilho contido no seu interior. Ao abrir, a emoção foi maior: Havia um pedacinho de tempo. Então, percebi que havia ganho também o tempo escasso de alguém que projetou aquele dia especialmente pra mim, e para que nada fosse esquecido, deu-me um urso de pelúcia para relembrar que afeto, carinho, atenção são frutos do tempo, da delicadeza, da verdade contida em cada gesto. Que este dia, não foi apenas para comemorar o dia dos namorados. Mas para lembrar o quanto somos especiais um para o outro.

A força do amor

Sempre gostei de observar o mundo que me rodeia, como uma expectadora de um grande teatro que é a vida. Já vi cenas belíssimas, emocionantes inseridas no cotidiano, que não estão nas páginas dos jornais, porém preenchem nossas lacunas de sorrisos e alegrias. No cotidiano, existe uma beleza singular: ele é a vida sendo costurada ponto a ponto na grande colcha de retalhos que se transformam os pequenos acontecimentos. E foi assim, em cenas simples, do dia-a-dia, que vi a inabalável força do amor.
Laura, é uma amiga que encontrei nos bancos acadêmicos. Juntas, Isabela, Samara, Sue Ellen, Luciara, Cris e eu, formamos um grupo de trabalhos, estresses e risadas. A vida de Laura sempre me chamou a atenção, pelo fato de ela ser mãe de três filhos, separada, dois empregos, estuda a noite, sua mãe, dona Lourdes, submeteu-se recentemente, a uma cirurgia de ponte de safena e ela, ainda tem um bom humor invejável! Para ela, tudo está sempre
ligth. Não dá para ficar triste perto daquela criatura. Com o passar do tempo, conheci sua vida, sua casa, seus filhos... Três adoráveis "trevinhas" como ela mesma diz. E realmente o são. Educados, obedientes e traquinos como deve ser qualquer criança, eles florescem e refrescam a vida desta mãe dedicada.
Mas na vida de Laura, havia um problema (além de todos os outros) que parecia não ter solução. Juline, sua filha mais nova, aos 07 anos, não sabia ler. Certa vez, ela desabafou: "Débora, hoje, João Victor disse que iria para o exército, Júnior disse que iria ser fisioterapeuta e Juline disse que não iria ser nada porque não sabia ler" Foi de cortar o coração ouvir aquela mãe dizer que sua princesa estava triste porque não iria ser nada quando crescesse pois não sabia juntar as letras e ler uma palavra. "Ela deve ser dislexa, Laura", disse tentado ajuda-la. "O problema - disse ela - , é que Juline conhece as letras e na hora de juntá-las e ler a palavra, ela chora desesperada. E tudo isso começou a acontecer quando o pai saiu de casa. Ela tem medo de ficar sozinha, sempre chora, como se nós fôssemos esquecê-la".
Certo dia, Laura me falou que havia conversado com Juline: "Princess, (é assim que ela chama sua filha) mainha colocou você na escola, contratou a Luana para te dar aulas particulares, então é necessário colaborar, vencer essa barreira da leitura." Havia tamanha ternura nessa conversa, no tom de voz daquela mãe, que comoveria até os ouvidos mais insensíveis do planeta. Ao invés de pegar o caminho "mais fácil" que seria o da punição, do castigo, ela pegou uma reta, chamada amor.
O tempo passou e precisei dormir na casa dela por conta dos trabalhos da faculdade. Ao chegarmos, os dois filhos maiores falaram eufóricos: "Mãe, a professora da Juline deixou um bilhete para a senhora. Eu estava na cozinha e ouvi-a ler o tal bilhete dizendo assim:

"Laura,
Estou muito feliz com a Juli!
Hoje, ela leu um texto inteiro em voz alta e não chorou. Tanto ela, como Júnior estão de parabéns!

Ass: Tia Luana"


Ao ouvir as palavras contidas naquele pedaço de papel, saí correndo em direção a sala. "Amiga, você ouviu?" disse Laura de forma emocionada. Nos abraçamos e as lágrimas caíram de forma livre num tom de alívio. "Preciso presentear minha princess, ela venceu a sim mesma! Amanhã vou enchê-la de beijos, porque agora ela está dormindo." continuou ainda encharcada de felicidade.
E assim vi a cena do cotidiano florescer no amor. Amor que não se explica, apenas se sente. E aquele apartamento, naquela noite, ficou leve, com cheiro de alegria e sons de leitura espalhados pelo ar.

O azul daquele olhar

O castanho dos meus olhos
Encontram o azul daquele olhar
Em palavras não ditas
Que não quis acreditar
Experiências há muito vividas
Me fizeram recuar
Estava bem ali
Na minha frente
O azul daquele olhar
A me pedir um beijo
Que não quis ofertar
Mas o azul daqueles olhos
Marcaram o meu olhar
Pareciam tão sinceros
As contas daquele olhar
Mas o medo foi mais forte
E preferi recuar
Não me arrependo
Daquele beijo
Que não quis ofertar
Porém me marcaram
Profundamente
O azul daquele olhar.

Fim de festa

Esta semana estava querendo me divertir, cair na gandaia, enfiar o pé na jaca como se diz por aí. A turma da faculdade, no intuito de angariar fundos para a formatura, resolveu organizar um evento. Dormi em Maceió na sexta-feira porque sábado, além dessa festa, tinha uma palestra na faculdade com uma fonoaudióloga que iria expor temas relacionados a portadores de necessidades especiais.
Fiquei hospedada na casa de Laura, uma super amiga que encontrei nos bancos acadêmicos. A noite chegou e já que todo mundo espera alguma coisa de um sábado a noite, me arrumei com esmero. Cabelos impecavelmente lisos, jeans, uma blusa super estilosa, e no final, ao me olhar no espelho, me achei linda de verdade.
E lá fomos, Laura, Raquel, Rafa e eu no pelo menos guiado pela anfitriã. Porque como ela mesmo diz, "pelo menos não ando de ônibus". A odisséia começa em como achar o local. Nem GPS encontrava aquele lugar. Eram tantas indicações e todas erradas. Até para um raio cair lá, teria que utilizar o serviço dos correios e telégrafos. Mas enfim, chegamos. Entrei empolgada e... não tinha viva alma além dos organizadores e de um cantor que jurava que estava animando um salão vazio. Comecei a dançar sozinha, porque alguém sempre tem que começar, ?
As pessoas começaram a chegar e o repertório mudou. De forró, passou para um estilo musical (?) inventado na Bahia chamado swingueira e eu sentei para observar as pessoas que dançavam um tipo de coisa mais parecido com acasalamento.
Começamos Laura e eu, a comentar a última moda no corpo das frequentadoras da festa, e claro, a observar os gatinhos que chegavam... Mas a festa ficou infestada por outro bicho que não era gato e se fosse utensílio, jamais seria espada. Percebi naquela noite que o mundo anda muito mais colorido do que eu pensava...
A festa acabou e fomos para a casa. Depois de fazer a romaria deixando cada amigo em seu respectivo lar, chegamos ao apartamento onde eu estava hospedada.
Depois de desabafos regados a café e algumas risadas, nos preparamos para dormir. Ao entrar no banheiro, me deparei um um bichinho pequeno, de uns 03cm de comprimento, castanho, patas pequenas, antenas atentas, que estava dentro da pia e me deixou alerta. "Laura, tem uma barata aqui na pia", falei com nojo e medo (bem mais medo do que nojo). "Mata, mata" ela disse apavorada. "Mas eu tenho medo" respondi. "Você tem medo fofinha, e eu, tenho pânico" replicou. Depois de pensar, peguei o inseticida e atingi aquela desgraçada e deixai-a lá, no ralo. Passado o tempo e o susto, ela perguntou: "Onde está a barata?" "No ralo" respondi. Pois cuide em tira-la daí, que eu quero escovar os dentes. E lá fui eu tirar aquele monstro de dentro da pia. Me vesti de uma coragem antes nunca tida: Peguei um palito, futuquei o ralo, e coloquei a horrorosa, asquerosa, imunda, sórdida, infame, torpe, no papel higiênico jogando-a no lixo. Depois de muitas risadas, quem encontramos no quarto? Bingo! Isso mesmo! Outra barata! Além de uma catenga no ralo da pia da cozinha. Parecia um filme de terror e sem falar que já eram 04:30 da manhã!
Depois fomos contabilizar o saldo zoológico da festa: sem gatinhos, muitos ve...alhos e baratas a rirem de nossa má sorte.

Amigos se reconhecem


Sempre a conheci, visto que moro no interior do Estado e em cidades pequenas, todos se conhecem, se não for de vista, será de fama... mas confesso que não gostava dela. Na verdade, detestava. Sabe quando se diz que o santo não bate? E éramos assim: quase inimigas sem nunca termos trocado uma única palavra. O sentimento era recíproco.
Até que nos deparamos dentro da mesma sala de aula, no primeiro período da faculdade de fisioterapia. "E agora?" pensei com meus botões. É o jeito estabelecer contato com a alienígena. Sim, porque éramos tão distantes, que parecia que vivíamos em planetas diferentes.
As conversas começaram a acontecer, eram sempre amenas. Um dia, ela foi objetiva: "Posso te fazer uma pergunta? Sei que você vai me dizer a verdade", disse quase atirando uma flecha. "Pode", respondi jogando um dardo. "Você não gostava de mim, né?" Perguntou com voz inocente. "Eu? Eu detestava você!" respondi. "Eu sabia", disse ela. Naquele instante, calei a resposta seca, vinda na ponta da língua.
As conversas amenas, passaram a ser animadas e então, chegamos ao patamar das confidências, sem nos darmos conta que já éramos amigas de infância. Quantos sorrisos, brincadeiras, brigas, lágrimas... E quantas reconciliações! Sim, porque meu gênio é forte, tenho espinhos a me proteger. Enquanto ela, é a maciez do dia áspero, a calma para a agitação, a palavra para o silêncio, o abraço para o cansaço.
Lembro-me de quando quase deixei de estudar por questões financeiras. Ela me ligou e perguntou por que eu não estava mais indo para a faculdade. Quase em um tom de ordem me fez voltar à sala de aula para continuar minha vida acadêmica.
E o tempo foi passando, passando... Hoje, somos como unha e carne, criança e chocolate, flor e perfume, céu e mar... inseparáveis.
Quantas verdades saíram de sua boca de forma amorosa? Muitas vezes, enfurecida com meus erros, me dizia tudo aquilo que eu necessitava ouvir. Mas dizia com tanto carinho me dando direito de defesa, e então percebi que amigo de verdade, não te acusa, te mostra um caminho, um norte e te dá defesa, mesmo tendo o direito de tê-la.
Ontem, pronunciei em voz alta a data vinte de maio. E ouvi sonoridade nela. Deve ser por isso que Deus permitiu que ela nascesse nesse dia. Fui olhar a numerologia e ela diz que os nativos do dia 20, são sensíveis, românticos, brandos, pacíficos e afetuosos. Minha amiga, é a junção de todas essas qualidades e ainda outras tantas que fica impossível enumera-las aqui.
O fato de trabalhar com comunicação, me fez ser uma pessoa auditiva. E para cada pessoa especial, existe uma música. Nunca encontrava uma para ela e ficava frustrada. Mas um dia, percebi que quando cantarolava a música do Roberto Carlos, Amigo de fé, irmão camarada, lembrava automaticamente dela. Porque ela é uma amiga de fé, uma irmã de verdade. Aquela que me diz verdades com frases abertas e sempre é a pessoa certa nas horas incertas.
A ela, dedico meu amor, (porque amigos dizem eu te amo), meu carinho, minha lealdade, e meu respeito. A ela, neste dia tão lindo que é o vinte de maio, dedico os sorrisos, a alegria, a fé, o sonho, a realização. Enfim, dedico a ela, toda e minha incondicional A-MI-ZA-DE!





*Ela, é Luciara Monique, filha de Coruripe, amiga na faculdade e a pessoa mais linda do Brasil.

Enquanto isso na cantina da injustiça...



Ao chegar à faculdade, fui à cantina saborear alguma coisa e interagir com os colegas. Sentei a mesa com Laysa, uma colega da turma e começamos a conversar.
No meio da conversa, falei em tom de desabafo: "Ai, amiga, estou me achando tão gorda..." E ela respondeu laconicamente: "Eu também." Olhei para ela compadecida. Quando percebeu meu olhar, foi taxativa: "Mas eu estou LHE achando gorda, não me achando".
Moral da história...
Triste não é você se achar gorda. Terrível mesmo, é quando alguém concorda com você.

Meu querido diário,


Finais felizes em novela, às vezes, me deixam meio depressiva. Minto. Hoje amanheci depressiva e o final feliz da novela, me deixou triste... Sei que era para ficar alegre, com tanta felicidade junta, mas estou melancólica...
Tive um sonho esquisito, que posso caracterizá-lo de visão do futuro ou no mínimo, ruim. Passei a manhã de mal humor, sem estímulo para nada, fui pra faculdade e também não queria estar lá.
Não consigo entender o que se passa aqui dentro. Uma mistura de vazio, com saudade não sei de quê, explodindo numa verdadeira confusão de sentimentos.
Queria chorar em um ombro, sem precisar explicar o motivo do choro. Queria só por hoje, não ter que sorrir largamente, não ter palavras otimistas, não ter brilho no olhar... Queria apenas chorar... sem disfarces, sem máscaras de felicidade, queria ser eu agora, com meus espinhos, ser egoísta e purgar o que eu sinto, como se as dores do mundo não existissem...
Queria aconchego, abraço, carinho, dengo, atenção....
Queria uma mão para apertar, um ouvido que quisesse escutar apenas o que eu quisesse dizer...
Queria uma boca muda, sem palavras, sem clichês, sem falsos otimismos...
Queria um olhar cúmplice, um chão para pisar, um sonho para divagar...
Estou indecisa, inquieta, reticente... mas mesmo assim eu queria... e queria muito, eu sei que queria...

Ao mestre com carinho


Sempre tive gosto por aprender... O saber liberta o homem das amarras que o prendem e o torna senhor de si. Claro que não sei de tudo. Até o último dia de minha vida, tenho muito a desvendar.
Mas esta fascinação pelo novo, pela descoberta, sempre me leva ao dia em que juntei às letras e li, sozinha a primeira palavra. Parecia uma equação matemática: “érre com é, ré. Dê com é, dé, a palavrinha é rédé. Não foi lá uma leitura perfeita da palavra rede, mas a satisfação da tia Maria Amália ao ver sua pupila lendo, e o fato de saber juntar aquela sopa embaralhada de letras, abriu minha mente infantil, para um mundo novo.
O tempo passou e a cada ano letivo, descobertas, lutas e professores que foram à base deste aprendizado. Recordo de cada um com tanto carinho e zelo, que ao lembrar de cada rosto querido, sinto saudade...
Quando estava no terceiro período da faculdade de Fisioterapia, que ainda estou a cursar, conheci um professor que seria um divisor de águas. Alto, imponente, voz grave, forte, largo, digo, muito largo, na verdade, gordo (ai, desculpa, professor! Perco o amigo, mas a piada...) que passava convicção em tudo o que dizia. Foi antipatia à primeira vista: “Vixe, Maria, esse deve ser o cão”, pensei com os botões do jaleco, meio surrado.
Com o passar dos dias, fui percebendo como aquela criatura tinha paixão pela docência, por ensinar e como recompensa, íamos encontrando luz em suas aulas, como se aquele momento fosse o espetáculo do aprender.
Um dia, despediu-se de nossa turma, porque sua vida corrida não permitia que ele lecionasse a noite. Preparamos uma festa, não porque estávamos felizes, mas porque um grande amigo iria partir. Ouvimos dele declarações emocionadas, onde ele dizia levar em seu coração, tudo o que aprendeu conosco.
A saudade foi ficando e as lembranças deixando esse sentimento ainda mais profundo. Até que nossa turma o convidou para nos dar um curso de fisiologia, no intuito de tirarmos nossas dúvidas e claro, rever o grande amigo. E como um pai, nos deu um presente de mãe, vindo iluminar nossa mente, no sábado que antecedeu o dia delas.
Ele chegou, entrou na sala e foi recebido com muitos sorrisos pelos pupilos. Parecia uma festa! Como naquela sala, havia pessoas que não o conheciam, porque o curso foi aberto para outros períodos, ele apresentou-se: “Bom dia, meu nome é Rogério Bernardo e leciono fisiologia na UFAL”. Findada sua humilde apresentação, iniciou a aula, cujo tema era
introdução a fisiologia e transporte através das membranas.
Mas a cada passo avançado, percebíamos como era fácil aquele assunto que achávamos ser um bicho de sete cabeças. “Entra sódio, sai potássio. Despolarização, repolarização”, dizia, nos fazendo entender como funciona a bomba de sódio e potássio, essencial para a homeostase (equilíbrio) do corpo humano. “Nosso corpo é um circuito elétrico: o cérebro não registra que um pastel foi ingerido. Uma descarga elétrica sinaliza que o sal entrou no organismo.” E continuava: “A bomba de sódio e potássio é linda, não é gente?” E eu não sabia se o mais bonito era a tal da bomba, ou ver a sala inteira aprendendo o que ele ensinava.
Ao terminar aquela aula, que mais representava o espetáculo do saber, nos limitamos apenas a aplaudir o mestre para mostrar o tamanho da nossa gratidão. E exatamente naquele momento, lembrei do dia em que juntei às letras e li sozinha, a primeira palavra. A voz quis embargar, os olhos quiseram lacrimejar, mas só me restou dizer, muito obrigada professor!



*Rogério C. Bernardo é médico urologista, andrologista, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia, secção Alagoas, professor de Fisiologia do Curso de Medicina da Universidade Federal de Alagoas – UFAL, atualmente faz doutorado em Bioética, além de um exímio piloto de bisturi. (Os pacientes que o digam).

Contradições


Acho que sou a contradição...
Impulsiva, doce, forte, frágil... O verdadeiro paradoxo da alma.
Previsível e imprevisível, uma caixa de surpresas cheia de medos, dissabores e muitos e deliciosos sabores...
Saborear... Eis o verbo que rege a vida.
Afinal, tudo é sensação que começa na visão e termina no paladar.
A derrota tem sabor de jiló.
A vitória tem sabor de chocolate (acho que é por causa da serotonina liberada)
Tenho a alma cigana, que aspira por liberdade
Mas sou cativa de meus próprios sentimentos
Sou moça de sítio, de banho de rio
Possuo uma menina interior que todos os dias me chama para brincar de roda e andar descalça pelo mundo sob os raios do sol
Sinto saudades da infância (acho que tenho a síndrome de Peter Pan)
Mas também existe dentro de mim uma mulher que adora rosas vermelhas
Que usa salto alto e vai à luta
Que ama e se entrega
Que não existe meio termo: Ou ama ou odeia...
Não gosto de me relacionar pisando em ovos...
Ou entro de cabeça, ou não entro.
Acho que se é pra voltar pra casa depois da meia noite, que seja então às cinco da manhã!
Pinto as unhas de vermelho intenso
Porque intensa, deve ser a vida
E como já foi dito, a contradição me persegue...
Adoro acordar aos sábados e assistir desenho animado!
Poxa, quando é que vou crescer?
Sou dengosa, encrenqueira, gosto de toda atenção voltada pra mim
Mas também sou submissa, procurando apaziguar situações...
Ah, esta bendita contradição!
Porém, como diria o poeta Raul Seixas, “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante”

Quem sou eu

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As vezes uma brisa, as vezes um livro, as vezes uma música, as vezes um sorriso, as vezes uma lágrima, as vezes tudo, as vezes nada e sempre uma contradição.