Nunca é tarde para compreender o amor

"É um bom tipo meu velho
Que anda só e carregando
Sua tristeza infinita
De tanto seguir andando..."
(Altemar Dutra)



A psicologia trata a relação entre filhos e pais, com um toque de mitologia grega, falando nas relações edipianas. O menino, "apaixona-se" pela mãe querendo em sua ingenuidade infantil, ser seu protetor, e a menina, "enamora-se" do pai e sente deste, um ciúme tão desmedido para sua idade, que chega a ser engraçado.
Não aconteceu diferente comigo. Quando eu era pequena, e já comentei aqui no blog, tinha um amor desmedido por meu pai. Ele era meu herói, o MacGyver (para quem nasceu depois dos anos 80, perdeu um seriado fantástico), o homem mais lindo da galáxia. Bem, lindo ele continua sendo, mas ao crescer, nos damos conta que pai e mãe, não são super, eles são tão humanos quanto nós, com erros e acertos.
Na época da separação dos meus pais, eu tinha 13 anos e me achava a pessoa mais adulta do planeta. "Compreendi" com uma mente adolescente, uma situação que me marcou para o resto da vida. Na época, meu pai começou a não me visitar, não perguntar, não se interessar por mim e eu achei que ele havia se divorciado de mim também. Acabamos nos divorciando em comum acordo, com separação total de confidências, abraços, sorrisos, visitas, preocupações, olhares, paternidade... A adolescência foi embora, a fase adulta chegou e carreguei comigo por todo esse tempo, uma dor surda, muda, porém cortante.
Lembro que quando ia visitá-lo no natal, e levava alguma lembrancinha, ele marejava os olhos e eu não entendia o porque, pois para mim, ele havia pedido desquite de nossa relação.
Hoje, ao vê-lo, sinto a mesma emoção de quando era apenas uma criança. Compreendi situações imcompreendidas, perdoei coisas imperdoáveis, e me senti mais leve.
Exatamente hoje, dia 28 de janeiro, ele completa 61 anos. O tempo, como o pintor da vida, prateou seus cabelos, tingiu seus olhos com emoção, salpicou paciência em sua alma, desacelerou seu caminhar.
Ao entregar seu presente de aniversário, ele mais uma vez, carregou de emoção o seu olhar. Me abraçou como antes e feliz da vida, parecendo mais um menino amarelo, disse: "Já viu o carro novo do seu pai?" Eu nem sei o que senti na hora. Não me importava o carro, mas o compartilhar da felicidade. O abracei e desta vez, as lágrimas derramadas vieram de minha alma. O tempo fez muitos milagres silenciosos e dentre estes, a certeza de que nunca é tarde para compreender o amor.

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As vezes uma brisa, as vezes um livro, as vezes uma música, as vezes um sorriso, as vezes uma lágrima, as vezes tudo, as vezes nada e sempre uma contradição.