Ausências

É noite. Chega em casa rendida pelo cansaço. Em vão, abre a geladeira na esperança de iluminar seus pensamentos diante da luz do refrigerador, mas consegue apenas engolir em seco a solidão que lhe rasga a garganta.
Abre a janela que dá para o pequeno quintal de casa e percebe como a noite está linda. A lua, cheia de saudades, testemunha as ausências sentidas. As fogueiras, características do período junino, não conseguem aquecer a alma, tão carente dos sorrisos, dos olhares, dos abraços...
Entra no banheiro, tira a roupa devagar, divagando em seus sentimentos. Demora-se debaixo da água fria como a querer espantar os pensamentos que a atormentam. Veste uma roupa confortável de algodão, perfuma-se delicadamente e cai na cama, como a esperar um alguém...
Ela queria perder-se naqueles braços, encontrar-se naquele olhar, guiar-se por entre aquelas mãos, beber daquela boca, proteger-se naquele abraço, dormir naquele corpo e acordar no sonho que deseja para realidade.
Mas apenas consegue sentir saudades e uma ponta de esperança junta-se as suas dúvidas cruéis, deixando-a confusa. Olha o relógio do telefone celular, que espera ansiosamente pelo toque característico e só ouve o silêncio cortante a falar mais alto.
Rende-se. Fecha os olhos. Adormece.

(In) Certezas

Não sou pessoa de frações, de metades.
Gosto do inteiro, do somado, multiplicado
Subtrações, divisões, só em casos especiais
Quero a vida intensa
Quero beijos arrebatadores
Quero abraços apertados e duradouros
Quero o tempo parado
Apenas para eu sentir a vida pulsar
Quero a loucura da vida
Não uma vida louca
Quero as gargalhadas mais altas
Os olhares mais profundos
As palavras mais doces
A verdade cortante
Não consigo viver com mentiras
Mesmo que eu tenha dúvidas
Quero as certezas
Não a certeza do futuro sólido, florido
Quero a certeza das palavras ditas
Das paixões que me juram
Das promessas que me fazem
E se nada for verdade
Se tudo for ilusão
Prefiro seguir o meu caminho
Sem sorrisos fragmentados
Sem abraços divididos
Prefiro ir
Sem dúvidas
Sem porventuras
Sem talvez
Sem quiçá.

A caixa de presentes


Por incrível que possa parecer, nunca em toda minha vida, passei dia dos namorados devidamente acompanhada. Sempre acontecia um desentendimento entre ambos ou em outras ocasiões, eu estava sem namorado mesmo. E o dia 12 de junho, sempre foi triste pra mim, porque romântica como sou, penso na magia desse dia pintado de carinho, atenção, paixão, chamas acesas... Algum leitor pode até falar que o dia dos namorados é qualquer dia, mas se existe dia marcado no calendário, porque não comemorar?
Este ano, não foi diferente. Passei o dia dos namorados sem a presença física, mas dia 11, sexta-feira, ganhei uma caixa de presentes. A caixa era enorme: Não tive forças para trazer para casa todo seu conteúdo. Eram tantos detalhes e tantos presentes contidos dentro dela, que teria que fazer infinitas viagens para conseguir carregar aqueles mimos para algum lugar.
A caixa era decorada com carinho, repleta de corações vermelhos desenhados primorosamente pelas mãos dele. Enfeitada com laços de ternura, tinha a delicadeza das flores ali contornadas.
Ao abrir a caixa, não pude conter minha alegria. Tinha dentro, uma paisagem, uma identidade geográfica, um lugar para chamar de nosso. Depois de vislumbrar com olhar infantil aquele paraíso que mais parecia céu, vi que ao lado da paisagem, tinha um abraço afetuoso, contagiado de confiança e esperança em dias felizes, aliado ao olhar cúmplice, azul como o céu de verão.
Observei um pacote vermelho, perfumado e quando peguei, ele estava cheio de beijos apaixonados e os ganhei um a um: delicados, insinuados, provocantes, cada um com sabor diferente, coloridos como a música do poeta Geraldo Azevedo.
Vi que dentro dela, havia um céu azul, uma tarde ensolarada iluminando a paixão nascente.
Havia ainda outra caixa um pouco menor, repleta de sorrisos avulsos, fruto da alegria sentida, da conversa leve, das palavras bobas ditas em um dia despreocupado, feito para o encontro de enamorados.
Quando observei direitinho, vi uma outra caixinha pequenina, luminosa, que chamou minha atenção pelo brilho contido no seu interior. Ao abrir, a emoção foi maior: Havia um pedacinho de tempo. Então, percebi que havia ganho também o tempo escasso de alguém que projetou aquele dia especialmente pra mim, e para que nada fosse esquecido, deu-me um urso de pelúcia para relembrar que afeto, carinho, atenção são frutos do tempo, da delicadeza, da verdade contida em cada gesto. Que este dia, não foi apenas para comemorar o dia dos namorados. Mas para lembrar o quanto somos especiais um para o outro.

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As vezes uma brisa, as vezes um livro, as vezes uma música, as vezes um sorriso, as vezes uma lágrima, as vezes tudo, as vezes nada e sempre uma contradição.