Meu querido, meu velho, meu amigo

Olhando seus cabelos, tão bonitos,
Beijo suas mãos e digo
Meu querido, meu velho, meu amigo.



Ontem amanheci saudosa. E na verdade, ainda estou. As lembranças da infância ficaram mais vivas em minha memória como se eu estivesse dentro de uma máquina do tempo a recordar um passado feliz. Ontem fez exatamente seis anos que meu avô partiu.José Joaquim da Silva, popular Zeca ferreiro (meu avô), era um homem muito rígido, sem papas na língua e sua palavra era lei.
Aquele homem de porte mediano, cabelos brancos, andando com a ajuda de um cajado era a nítida expressão da dignidade. Seus olhos, para mim sempre foram um caso a parte... Uma cor indefinida, que lembrava o Rio São Francisco em profundidade, eram a expressão da beleza. Suas mãos eram a do artista que forjava facas, facões, foices e ao mesmo tempo, tinham a delicadeza de cultivar a terra, de saber dos seus segredos e necessidades.
Ferreiro de profissão e agricultor por vocação, tinha um respeito admirável pela natureza e não permitia que viva alma atirasse um alfinete nos pássaros e seus ninhos, que ao contrário do que se pense, eram livres como vento. E se algum neto ousasse tirar uma única fruta verde do pé, era praticamente obrigado a comê-la para aprender que tudo na vida tem seu tempo.
Homem de pulso firme e olhar doce e esse contraste nos permitia uma intimidade que não consigo explicar. Nunca ousou agredir qualquer um dos netos fisicamente, mas nem precisava, porque as broncas que ele dava valiam por vinte surras de cipó de couro.
Seus conselhos eram sábios, nos ensinava muito da vida, do mundo. Certa vez, quando percebeu que nós, as meninas, já estávamos descobrindo a adolescência e com medo de nos desviarmos do caminho correto, fez uma observação que não esqueço até hoje: "Um homem, quando senta em um lugar sujo, levanta e vai embora. Já a mulher, fica suja para o resto da vida". E com todo machismo inserido dentro dessas palavras, é preciso concordar que ele estava certo.
Eu tinha nele a figura do salvador da pátria, já que minha mãe não ousava brigar comigo na frente dele. As histórias que ele contava, a simplicidade e falta de traquejo com a língua portuguesa faziam dele a pessoa mais fantástica da galáxia.
Aquela casa de alpendre, no alto do morro, ladeada por um sítio, era farta de gente e alegria. Todos da vizinhança chegavam na casa do seu Zeca ferreiro para dois dedos de muito boa prosa e em épocas festivas, estávamos sempre reunidos à mesa para a celebração da vida.
Mas as pessoas não existem para sempre e um dia, elas precisam partir... E despedida do meu avô foi muito dolorosa. Ainda hoje, tenho guardado na lembrança de forma muito viva.
Continuo mantendo-o presente em minha alma e a cada vez que toca a música cujo título dá nome a este post, sou levada pela melodia da saudade a um tempo que infelizmente não volta mais.

1 comentários:

SAMARA 22 de dezembro de 2010 às 09:40  

Debys!!!sou sua fã....
seus textos me tocam profundamente...parece q vivo ou tento imaginar o q vc escreve....adoroooo muitoooooo esse blog......bjo =)

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As vezes uma brisa, as vezes um livro, as vezes uma música, as vezes um sorriso, as vezes uma lágrima, as vezes tudo, as vezes nada e sempre uma contradição.