Feliz dia dos pais

Sempre que ouço a música "Pai" do compositor Fábio Jr. lembro da minha infância e da felicidade de ter meu pai presente todos os dias em minha vida...
São lembranças tão fortes que ainda consigo sentir o cheiro de graxa e óleo diesel que ele exalava quando chegava todos os dias em casa para almoçar. Ficava à porta de casa esperando aquele homem alto e desengonçado surgir ao longe, branco na pele e preto pelo trabalho, para sair em desabalada carreira para abraçá-lo. Para meu olfato infantil, não havia aroma mais irresistível que o cheiro dele. Era o homem que me protegia, me amava, que me daria a lua, assim eu a pedisse. A criatura mais incrível, mais inteligente da galáxia. O Macgyver da minha vida.
Nunca ousou levantar a mão para me bater... Mas tinha um olhar e um tom de voz que valiam por milhões de surras! Me beijava, abraçava e à sua maneira bronca de ser, sonhava comigo.
A história que envolve meu nascimento foi contada e recontada por ele inúmeras vezes. Por conta de minha sobrevivência, tornou-se evangélico pois viu em meu nascimento um milagre.
A grande escritora Clarice Lispector conta que seu nascimento era a salvação de sua família. Sua mãe, tinha uma doença grave e segundo a crença popular, ela teria que dar a luz a um filho para ficar curada. Clarice nasceu e posteriormente sua mãe faleceu. Ao ler esse relato da escritora, pensei que meu nascimento milagroso manteria meus pais unidos... Acho que falhei em minha missão. - Tá, esse pensamento é digno de uma criança de cinco anos de idade, mas quem nunca foi infantil na vida?
Meu pai não morreu, mas penso que fiquei órfã de pai vivo. Quando ele foi embora de casa, deixou para trás uma adolescente de treze anos. As vezes, quando ele bebia demais, ouvia suas declarações de amor, e tentava pensar que uma consciência alterada pelo álcool costuma dizer a verdade.
Domingo último, foi dia dos pais. Tenho inúmeras lembranças desse dia, todos eles vividos na casa de meu avô. Vestíamos as melhores roupas, para depois sujá-las na terra daquele sítio cheio de doces recordações. E com todas essas reminiscências, passei ferro na roupa, tomei banho, e cada vez essas lembranças ficavam mais fortes. Senti até o cheiro da casa, do sítio, da comida preparada por minha avó.
Mas os pensamentos me acordavam dizendo que esse tempo ficara no passado. Na verdade, estava me arrumando para chegar até a casa do meu pai. Depois de pronta, liguei para ele, perguntado se ele estava em casa, ao que ele respondeu: "Estou em Barreiras bebendo cachaça." Ouvi sua resposta e murchei. Em meio a frustração que me tomava, consegui apenas dizer com voz baixa e triste: "Feliz Dia dos Pais".

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As vezes uma brisa, as vezes um livro, as vezes uma música, as vezes um sorriso, as vezes uma lágrima, as vezes tudo, as vezes nada e sempre uma contradição.