A força do amor

Sempre gostei de observar o mundo que me rodeia, como uma expectadora de um grande teatro que é a vida. Já vi cenas belíssimas, emocionantes inseridas no cotidiano, que não estão nas páginas dos jornais, porém preenchem nossas lacunas de sorrisos e alegrias. No cotidiano, existe uma beleza singular: ele é a vida sendo costurada ponto a ponto na grande colcha de retalhos que se transformam os pequenos acontecimentos. E foi assim, em cenas simples, do dia-a-dia, que vi a inabalável força do amor.
Laura, é uma amiga que encontrei nos bancos acadêmicos. Juntas, Isabela, Samara, Sue Ellen, Luciara, Cris e eu, formamos um grupo de trabalhos, estresses e risadas. A vida de Laura sempre me chamou a atenção, pelo fato de ela ser mãe de três filhos, separada, dois empregos, estuda a noite, sua mãe, dona Lourdes, submeteu-se recentemente, a uma cirurgia de ponte de safena e ela, ainda tem um bom humor invejável! Para ela, tudo está sempre
ligth. Não dá para ficar triste perto daquela criatura. Com o passar do tempo, conheci sua vida, sua casa, seus filhos... Três adoráveis "trevinhas" como ela mesma diz. E realmente o são. Educados, obedientes e traquinos como deve ser qualquer criança, eles florescem e refrescam a vida desta mãe dedicada.
Mas na vida de Laura, havia um problema (além de todos os outros) que parecia não ter solução. Juline, sua filha mais nova, aos 07 anos, não sabia ler. Certa vez, ela desabafou: "Débora, hoje, João Victor disse que iria para o exército, Júnior disse que iria ser fisioterapeuta e Juline disse que não iria ser nada porque não sabia ler" Foi de cortar o coração ouvir aquela mãe dizer que sua princesa estava triste porque não iria ser nada quando crescesse pois não sabia juntar as letras e ler uma palavra. "Ela deve ser dislexa, Laura", disse tentado ajuda-la. "O problema - disse ela - , é que Juline conhece as letras e na hora de juntá-las e ler a palavra, ela chora desesperada. E tudo isso começou a acontecer quando o pai saiu de casa. Ela tem medo de ficar sozinha, sempre chora, como se nós fôssemos esquecê-la".
Certo dia, Laura me falou que havia conversado com Juline: "Princess, (é assim que ela chama sua filha) mainha colocou você na escola, contratou a Luana para te dar aulas particulares, então é necessário colaborar, vencer essa barreira da leitura." Havia tamanha ternura nessa conversa, no tom de voz daquela mãe, que comoveria até os ouvidos mais insensíveis do planeta. Ao invés de pegar o caminho "mais fácil" que seria o da punição, do castigo, ela pegou uma reta, chamada amor.
O tempo passou e precisei dormir na casa dela por conta dos trabalhos da faculdade. Ao chegarmos, os dois filhos maiores falaram eufóricos: "Mãe, a professora da Juline deixou um bilhete para a senhora. Eu estava na cozinha e ouvi-a ler o tal bilhete dizendo assim:

"Laura,
Estou muito feliz com a Juli!
Hoje, ela leu um texto inteiro em voz alta e não chorou. Tanto ela, como Júnior estão de parabéns!

Ass: Tia Luana"


Ao ouvir as palavras contidas naquele pedaço de papel, saí correndo em direção a sala. "Amiga, você ouviu?" disse Laura de forma emocionada. Nos abraçamos e as lágrimas caíram de forma livre num tom de alívio. "Preciso presentear minha princess, ela venceu a sim mesma! Amanhã vou enchê-la de beijos, porque agora ela está dormindo." continuou ainda encharcada de felicidade.
E assim vi a cena do cotidiano florescer no amor. Amor que não se explica, apenas se sente. E aquele apartamento, naquela noite, ficou leve, com cheiro de alegria e sons de leitura espalhados pelo ar.

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As vezes uma brisa, as vezes um livro, as vezes uma música, as vezes um sorriso, as vezes uma lágrima, as vezes tudo, as vezes nada e sempre uma contradição.